Dados e Indicadores - Mapa de Iluminação e Crimes

Análise do mapa de iluminação por setor censitário e crimes:

(análise de Cristiano Quaresma)

Fonte do mapa: PMSP/Geosampa e SSP - SP

Muitos autores apontam relações entre iluminação pública e crimes, especialmente de furto e roubo em ambientes urbanos, bem como o aumento de interesse por parte do poder público e da academia nos estudos relacionados ao tema (Farrington & Welsh, 2002; Deryol & Payne, 2017a; Deryol & Payne, 2017b; He, Páez & Liu, 2017; Beccali et al., 2018; Painter, 1994; Chalfin et al. 2021; Xu et al., 2018; Davies & Farrington, 2020; Khalid et al., 2017).

Diante do reconhecimento da importância da iluminação de rua na prevenção de crimes e no aumento da percepção de segurança por parte dos cidadãos (Beccali et al., 2018; Kaplan & Chalfin, 2022; Painter, 1994, Xu et al., 2018), muitas cidades passaram a adotar programas de ampliação da luz de rua com vias a reduzir crimes (Farrington & Welsh, 2002a, b; Deryol & Payne, 2017; Painter, 1996).

Além disso, grande parte dos estudos existentes buscaram avaliar os efeitos da melhoria da iluminação de rua no combate e redução de crimes, destacando que, após a implementação de melhorias de iluminação, os crimes foram reduzidos não só no local de intervenção, como também em áreas adjacentes (Painter & Farrington, 1999a; Painter & Farrington, 1999a; Farrington & Welsh, 2002b, Xu et al., 2018).

He, Páez e Liu (2017), baseando-se nas teorias da janela quebrada, da prevenção de crimes por meio do desenho do ambiente construído e da prevenção situacional do crime, destacam que a iluminação de rua deteriorada se constitui em um elemento de desordem física que, ao lado de outros elementos como janelas quebradas, casas vazias/abandonadas, carros abandonados nas ruas e pichações, se constitui em um fator ambiental correlato do crime. 

Farrington e Welsh (2002b) identificaram a existência de duas teorias principais que buscam explicar o porquê da redução da criminalidade associada à melhoria da iluminação pública. A primeira sugere que uma iluminação melhorada permite maior vigilância de potenciais infratores, tendo em vista a que amplia a visibilidade e o número de pessoas na rua, dissuadindo potenciais infratores. A segunda teoria sugere que melhorias na iluminação fazem ampliar os investimentos da comunidade na área, bem como o orgulho da comunidade, gerando maior coesão desta e resultando em um controle social informal. Ainda de acordo com os autores, a primeira teoria prevê diminuições na criminalidade especialmente durante as horas de escuridão, enquanto a segunda teoria prevê diminuições no crime durante o dia e a noite.

 

Os dados de furto e de roubo, por delegacia e ocorridos no ano de 2020, foram obtidos por meio da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública de São Paulo. Tais dados foram espacializados em Sistema de Informação Geográfica (SIG).

A camada resultante do número de crimes por delegacia foi sobreposta à camada de iluminação.

Com base no mapa, é possível verificar que os dados corroboram os estudos que analisam a distribuição/concentração de crimes contra o patrimônio na escala municipal/regional. Neste sentido, verifica-se concentração dos crimes nas áreas centrais do município de São Paulo, corroborando estudos como os de Khalid et al. (2017).

Também pode-se verificar uma concentração de maior número de casos nas subprefeituras M’Boi Mirim e Campo Limpo. Tais subprefeituras destacam-se por apresentarem condições de vulnerabilidade social alta e muita alta, conforme destacado por Calado et. Al. (2021).

Os crimes mencionados serão espacializados em função de suas coordenadas geográficas de ocorrência, o que permitirá a realização da análise de concentração e dispersão, com base no estabelecimento de pontos quentes. Permitirá também o cruzamento com outras camadas de dados socioeconômicos e de polos geradores de viagem, tais como parques urbanos, estações de metrô, terminais de ônibus, áreas comerciais e estádios de futebol (Quick Li e& Brunton-Smith, 2018; Arnio e Barimer, 2012; Ceccato & Oberwitter, 2008; Adeymi et al., 2021; Ceccato & Oberwitter, 2008; Arnio & Barimer, 2012); Parques Urbanos (Khalid et al., 2017; Ceccato & Oberwitter, 2008); Estações de metrô/terminais de ônibus  (Matijosaitene et al., 2019; Glasner & Leitner, 2016; Ceccato & Moreira;, 2020;, Xu et al., 2021); Áreas Ccomerciais (Khalid et al., 2017; Sypion-Dutkowiska & Leitne, 2017; Arnio & Barimer, 2012).

 

Referências

 

Beccali, M., Bonomolo, M., Leccese, F., Lista, D., & Salvadori, G. (2018). On the impact of safety requirements, energy prices and investment costs in street lighting refurbishment design. Energy, 165, 739-759.

Chalfin, A., Kaplan, J., & LaForest, M. (2021). Street light outages, public safety and crime attraction. Journal of Quantitative Criminology, 1-29.

Davies, M. W., & Farrington, D. P. (2020). An examination of the effects on crime of switching off street lighting. Criminology & Criminal Justice, 20(3), 339-357.

Deryol, R., & Payne, T. C. (2018). A method of identifying dark-time crime locations for street lighting purposes. Crime prevention and community safety, 20(1), 47-62.

Farrington, D. P., & Welsh, B. C. (2002) a. Improved street lighting and crime prevention. Justice quarterly, 19(2), 313-342.

Farrington, D. P., & Welsh, B. C. (2002) b. Effects of improved street lighting on crime: a systematic review. London: Home Office.

He, L., Páez, A., & Liu, D. (2017) a. Built environment and violent crime: An environmental audit approach using Google Street View. Computers, Environment and Urban Systems, 66, 83-95.

He, L., Páez, A., & Liu, D. (2017) b. Persistence of crime hot spots: an ordered probit analysis. Geographical analysis, 49(1), 3-22.

Kaplan, J., & Chalfin, A. (2022). Ambient lighting, use of outdoor spaces and perceptions of public safety: evidence from a survey experiment. Security Journal, 35(3), 694-724.

Khalid, S., Shoaib, F., Qian, T., Rui, Y., Bari, A. I., Sajjad, M., ... & Wang, J. (2018). Network constrained spatio-temporal hotspot mapping of crimes in Faisalabad. Applied Spatial Analysis and Policy, 11(3), 599-622.

Painter, K. (1994). The impact of street lighting on crime, fear, and pedestrian street use. Security Journal, 5(3), 116-124. 

Painter, Kate. (1996). The influence of street lighting improvements on crime, fear and pedestrian street use, after dark. Landscape and urban planning, 35(2-3), 193-201.

Painter, K., & Farrington, D. P. (1999) a. Street lighting and crime: diffusion of benefits in the Stoke-on-Trent project. Surveillance of public space: CCTV, street lighting and crime prevention, 10, 77-122.

Painter, K., & Farrington, D. P. (1999) b. Improved street lighting: crime reducing effects and cost-benefit analyses. Security Journal, 12(4), 17-32.

Xu, Y., Fu, C., Kennedy, E., Jiang, S., & Owusu-Agyemang, S. (2018). The impact of street lights on spatial-temporal patterns of crime in Detroit, Michigan. Cities, 79, 45-52.